quarta-feira, maio 31, 2006

As curvas do dólar

Estava tentando entender porque o dólar caiu tanto nos meses passados e porquê de uma hora para outra, sobe ao maior patamar desde agosto passado. Descobri a resposta.

Na tentativa de atrair novos investimentos internos ao Brasil, o governo criou a medida provisória 281, que determina não haver cobrança de imposto de renda para correntistas internacionais na compra de papéis (ações) públicos.

A medida foi necessária porque o governo brasileiro entendeu que o investidor nacional não se interessa por investimentos a médio e longo prazo, alguns desses papeis são para 2045.

A importância da MP é visualizada com os números que explicam as taxas de investimentos no território nacional. Para se ter uma idéia, em 2002 os investimentos foram negativos em US$ 274 milhões, explicada principalmente pelas incertezas quanto a eleição presidencial daquele ano; em 2003 US$ 272 milhões positivos; 2004 de US$ 101 milhões também positivos e finalmente em 2005, ano da MP, de US$ 689 milhões.

Todo esse montante financeiro entrando no país despencou o valor do dólar e inundou o mercado nacional de investimentos em setores estratégicos do governo.

Mas a ética do capital é a ética do lucro. Apesar da forte liquides econômica no ano passado, o governo agora deve pagar o preço. Com as incertezas sobre o mercado americano e a proximidade das eleições do Brasil, da mesma forma como o fluxo financeiro era positivo para a nação, ele se torna também imediatamente negativo. Os investidores começaram a fugir do turbulento cenário que se estenderá até outubro, o que pressionou novamente a subida do dólar.

Essa variação da moeda americana é fácil de assistir na televisão, mas têm mais notícias ai por trás. Lembram-se daqueles papéis que não despertam os interesses dos investidores nacionais? Então, para impedir que o capital especulativo estrangeiro tivesse perdas de até 30% dos investimentos, o Tesouro nacional agiu prontamente e entre os dias 24 e 26 de maio, aceitou aceitou recomprar R$ 4 bilhões em títulos dos quais os estrangeiros queriam se livrar. O Tesouro não informou qual foi custo para os cofres públicos dos três dias de socorro.

Aliviar prejuízo alheio não é função do Tesouro nacional.

Tanto não é função, que os produtores agrícolas nacionais, que vêm desde o ano passado acumulando dívidas decorrentes da baixa do dólar, não receberam a mesma ajuda benevolente do governo federal.

Toda essa movimentação econômica só nos mostra a ainda dependência do país desses fluxos financeiros internacionais e uma política que parece não querer mudar essa situação de sensibilidade do Brasil à esse dinheiro e instabilidade ao câmbio também decorrente.

“O prejuízo que a MP ajudou a provocar aos exportadores foi citado no Senado como motivo para a Casa no mínimo ter cuidado ao votá-la. A ponderação partiu do senador Tasso Jereissatti (CE), presidente do PSDB. Em negociações com a base governista sobre a votação da MP 281, Tasso mencionou o setor rural como exemplo de perda decorrente do dólar barato. Mas a argumentação não empolgou nem a bancada tucana. A expectativa do governo é aprovar a MP até quarta-feira (31). O parecer do relator, senador Luiz Otávio, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), sugere votá-la nos mesmos termos aprovados pela Câmara no dia 26 de abril.”

Vamos ter que ratiar o prejuízo entre 200 milhões de brasileiros, DE NOVO.

2 comentários:

Unknown disse...

Sim, o Brasil foi o primeiro país a inventar a vaquinha para ajudar investidores internacionais. Nega que é bonito, ainda que de uma forma ruim?

Unknown disse...

Thiago, eu acompanho mesmo, e com prazer. Puxa, gostei do texto, acho que pra falar de economia você precisa vincular o assunto com o "mundo real", e isso você fez bem. Afinal, a gente só fica vendo as "sombras" se mexendo, com o dólar quicando que nem uma bolinha de ping-pong, mas não sabe do que acontece de verdade. Ou seja, estamos só vendo os sintomas e nem sabemos que existe uma "doença". Exatamente como parece que algumas esferas do poder gostam que seja...