Pois bem, vou aproveitar minhas férias e vou escrever só sobre coisas felizes e tranqüilas.
Hoje, por exemplo, vou falar de coelhos...
No princípio havia o verbo. Sob sua vontade soberana e absoluta foram criadas as estrelas, o céu e a terra. A terra foi povoada por vários seres de muitas formas e cores, e deus achou que isso era bom.
Sobre imensos campos verdes, cresceram frutas, verduras e tantas outras plantas que a imensidão multicor resplandecia em contraste com o azul profundo dos mares, habitado por peixes de tantos tamanhos quanto os grãos de areia onde as águas tombavam. E deus achou que isso também era bom.
Mas faltava alguma coisa, a faltava o pulsar de uma vida nova, orgulhosa. À sua imaginação e criatividade, deus criou o primeiro coelho, uma pelugem branca como a neve do norte cobria um corpo rechonchudo, iluminado por dois belos olhos azuis, gotas de um céu grandioso que se estendia sobre a terra. E deus achou que isso era bom.
Mas o coelho estava sozinho, e apesar da beleza da terra que se espalhava por distâncias inimagináveis, seus olhos não brilhavam como deveriam...
Para estar ao seu lado, deus retirou uma de suas três orelhas e criou uma coelha. Lado a lado, o casal poderia contemplar a magnitude da criação. E deus achou que isso era bom.
Mas as criaturas se vislumbraram e conheceram o contato íntimo, corporal.
Sob muitas luas eles estiveram juntos em contato próximo. Na terra do inimaginável ouviu-se através de nascentes e poentes os suspiros dos corpos que se entrelaçaram. O senhor contemplou sua criação e viu, fez merda.
Os frutos da maldita união criaram outros seres, e outros e outros e outros.
Das duas sementes da criação nascerem os frutos execrados. Na casa das centenas, eles se separam pela terra. Nos milhares, diferenciaram em cultura e língua, perdendo o contato. Ao milhões começaram a explorar a terra e tirar dela mais que o sobrevivência, mas também o conforto. Aos bilhões entraram em guerras, brigaram e se ofenderam. E deus viu que tinha ferrado toda a história.
Mas pedras caíram do céu como gotas de uma tempestade. Os coelhos de foram.
E deus, imerso na decepsão eterna, profunda como os abismos infindáveis dos mares, apostou numa nova espécie, uma nova criação.
(Em rima) Nascia Adão...