quarta-feira, maio 31, 2006

As curvas do dólar

Estava tentando entender porque o dólar caiu tanto nos meses passados e porquê de uma hora para outra, sobe ao maior patamar desde agosto passado. Descobri a resposta.

Na tentativa de atrair novos investimentos internos ao Brasil, o governo criou a medida provisória 281, que determina não haver cobrança de imposto de renda para correntistas internacionais na compra de papéis (ações) públicos.

A medida foi necessária porque o governo brasileiro entendeu que o investidor nacional não se interessa por investimentos a médio e longo prazo, alguns desses papeis são para 2045.

A importância da MP é visualizada com os números que explicam as taxas de investimentos no território nacional. Para se ter uma idéia, em 2002 os investimentos foram negativos em US$ 274 milhões, explicada principalmente pelas incertezas quanto a eleição presidencial daquele ano; em 2003 US$ 272 milhões positivos; 2004 de US$ 101 milhões também positivos e finalmente em 2005, ano da MP, de US$ 689 milhões.

Todo esse montante financeiro entrando no país despencou o valor do dólar e inundou o mercado nacional de investimentos em setores estratégicos do governo.

Mas a ética do capital é a ética do lucro. Apesar da forte liquides econômica no ano passado, o governo agora deve pagar o preço. Com as incertezas sobre o mercado americano e a proximidade das eleições do Brasil, da mesma forma como o fluxo financeiro era positivo para a nação, ele se torna também imediatamente negativo. Os investidores começaram a fugir do turbulento cenário que se estenderá até outubro, o que pressionou novamente a subida do dólar.

Essa variação da moeda americana é fácil de assistir na televisão, mas têm mais notícias ai por trás. Lembram-se daqueles papéis que não despertam os interesses dos investidores nacionais? Então, para impedir que o capital especulativo estrangeiro tivesse perdas de até 30% dos investimentos, o Tesouro nacional agiu prontamente e entre os dias 24 e 26 de maio, aceitou aceitou recomprar R$ 4 bilhões em títulos dos quais os estrangeiros queriam se livrar. O Tesouro não informou qual foi custo para os cofres públicos dos três dias de socorro.

Aliviar prejuízo alheio não é função do Tesouro nacional.

Tanto não é função, que os produtores agrícolas nacionais, que vêm desde o ano passado acumulando dívidas decorrentes da baixa do dólar, não receberam a mesma ajuda benevolente do governo federal.

Toda essa movimentação econômica só nos mostra a ainda dependência do país desses fluxos financeiros internacionais e uma política que parece não querer mudar essa situação de sensibilidade do Brasil à esse dinheiro e instabilidade ao câmbio também decorrente.

“O prejuízo que a MP ajudou a provocar aos exportadores foi citado no Senado como motivo para a Casa no mínimo ter cuidado ao votá-la. A ponderação partiu do senador Tasso Jereissatti (CE), presidente do PSDB. Em negociações com a base governista sobre a votação da MP 281, Tasso mencionou o setor rural como exemplo de perda decorrente do dólar barato. Mas a argumentação não empolgou nem a bancada tucana. A expectativa do governo é aprovar a MP até quarta-feira (31). O parecer do relator, senador Luiz Otávio, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), sugere votá-la nos mesmos termos aprovados pela Câmara no dia 26 de abril.”

Vamos ter que ratiar o prejuízo entre 200 milhões de brasileiros, DE NOVO.

segunda-feira, maio 29, 2006

Sobre homens e bárbaros

Estou terminando a leitura do livro Ensaio sobre a Cegueira de Saramago e aproveito o espaço inclusivo para recomendá-lo.

A cegueira a qual Saramago se refere através do romance em que se torna o livro, é aquela do homem de bons olhos, quero dizer, a cegueira não das luzes que levam à retina esse universo de cores, mas a cegueira quanto ao mundo no qual estamos inseridos. Uma cegueira social, por assim dizer, buscando não cair no mérito da sociologia e psicologia social.

E foi pensando sobre isso que hoje me encontrei discutindo o que é ser um ser humano. Quero dizer, todas essas roupas, carros ruas e fios são o que nos separam do homem animal? Brusco e tosco, bárbaro no sentido mais animalesco a que podemos pensar sobre homens.

Em uma das frases do livro, na voz da “mulher do médico”; isso porquê os personagens não tem nomes, mas os identificamos por referências, falarei mais sobre isso depois; a frase a qual me referia portanto é “Se não podemos ser totalmente homens, nos esforçaremos para não ser totalmente animais”. Para se entender melhor a frase, pensemos que a personagem se encontra num espaço insalubre para o pleno desenvolvimento do homens enquanto moderno, a quem noções de conforto e higiene são vitais.

Retornando aos postes e asfaltos, são eles que nos fazem assim tão diferentes dos outros seres que coabitam o planeta? Usar um cabo metálico para conectar eletricamente uma fonte produtora e outra consumidora é assim tão menos animal que usar o mesmo fio para pousar sobre, se não entenderam a figuração, me refiro a um pássaro que enquanto descansa, espera sobre o fio que a energia lhe retorne as penas. E de um jeito que só o pássaro pode, observa os pobres animais humanos indo trabalhar, angustiados e cansados, mas que pressionado por uma noção de tempo inexorável, não se pode dar ao conforto de parar sobre um fio de metal e esperar enquanto descansa.

Na pobre interpretação que me permito ter sobre Saramago acredito que a opção de não dar nomes aos personagens é justamente para lhes tirar o caráter de unicidade e pode aplicar seu desenvolvimento a todos aqueles que nas palavras descritivas interpretam uma leitura sobre si mesmo.

E é dessa cegueira que penso. Será que camisas e calças, carros e colchões, é isso mesmo que nos fazem mais humanos? Talvez seja se pensarmos que essas coisas nos distanciam do barbarismo, mas o que na verdade é barbarismos?

Vemos que com quanto mais luxos se cercam os homens, menos humanidade vemos em seus olhos. Acho que associamos tão fortemente a construção de humanidade ao desenvolvimento da civilização que não conseguimos sequer nos imaginar em outra condição. A noção do homem como bicho social nos impede de distanciar o entendimento sobre nossa vida da vida alheia.

Prendemo-nos uns aos outros em uma base psicológica tão profunda que chamamos nossos grilhões de liberdade e esperamos por respostas, que acredito a muito tempo estiveram em nossas mãos mas que agora, nem existem mais.

“Não há mais futuro, só uma sucessão de presentes”.

terça-feira, maio 23, 2006

Inocentes

“Vivemos um momento terrível , mas também precioso na vida brasileira. O país está com o corpo aberto, mostrando seu câncer generalizado.

Em um ano, descobrimos que havia uma quadrilha no poder e vimos como funcionava a corrupção, dos mensalões atá as sanguessugas. E agora, descobrimos que estamos muito mais indefesos do que pensávamos.

E quem nos revelou isso tudo? Os salvadores da pátria? Não. Um corrupto confesso, o Jefferson, nos mostrou como era o sistema da quadrilha no poder.

E agora, o Marcola e o PCC nos ensinam que estamos abandonados pelo poder publico.

Diante da incompetência evidente, os políticos se acusam, mas a verdade é todos estão aquém do que acontece. A realidade explode e revela a preguiça, o descaso e a ignorância de todos os políticos.

Estamos vivendo uma crise institucional. As soluções tradicionais não bastam. As "providencias", as “comissões", nada resolve.

Talvez adiante a humildade do Lula e seus petistas, dos tucanos e seus aliados, todos os políticos, reconhecendo que não sabem o que fazer. Só um mutirão acima de partidos e uma pressão contínua da sociedade podem, talvez, ajudar.

É um momento precioso. Não deixemos escapar esta oportuna verdade terrível: o Brasil precisa de uma revolução institucional. Não há solução ainda porque a verdade é que não conhecemos o problema.”

Arnaldo Jabor

http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VBC0-2754-168681,00.html

Acredito que vivemos na verdade, uma crise de identidade. Perdemos quais são as noções de pais, nação. Perdemos o fio da meada jurídico, impossibilitados de saber o que é certo e errado, cegados pelo impunidade.

Se Jabor diz que vivemos um momento único... Concordo.

Bandidos, traficantes, meliantes, esses já matavam tradicionalmente. Mas só alguns infelizes e pobres entre eles vão para a cadeia. Mas isso, todos já sabíamos.

Agora também, policiais respondem balas com balas. E se não sabe-se de onde vem o tiro, não há o porquê de saber aonde minha resposta vai acertar. Inocentes morrem.

Políticos também matam. A corrupção é a grande arma contra o povo. E começa com um traficante entrando com celular na cela e termina com 50 inocentes assassinados queimados vivos dentro de ônibus super lotado. O problema em todo o círculo vem lá de cima. Onde o dinheiro compra tudo, até a alma.

Jornalistas também matam. E se dizem por amor. E assassinato é respondido com liberdade. Ai, juízes também matam. A impunidade abre pretextos. Corrupção.

A verdade parece assim, frases tristes e soltas. Perdemos a noção do todo, da continuidade. Perdemos as construções de passado, presente e futuro. Perdemos o tempo enquanto caminho.

Vivemos a repetição diária da dor.

Inocentes morrem.

sexta-feira, maio 19, 2006

Pra quem curte tecnologia


Achei esse texto agora a noite no Portal Terra. Pra quem curte informática e tecnologia, vale a pena dar uma lida.

Água e nano-fios podem aumentar armazenamento de dados


Água e fios de dez átomos de espessura poderiam ser usados para construir os menores e mais densos elementos de armazenamento de dados conhecidos. Os fios, com espessura de três bilionésimos de metro, poderiam ser usados para guardar 12,8 Terabytes de dados em um centímetro cúbico de memória, diz a NetworkWorld.

A pesquisa da Universidade de Drexel descobriu que cercar com água fios ferroelétricos em escala nanométrica estabiliza sua carga elétrica. Isto significa que eles poderiam ser usados para estocar dados usando as duas direções potenciais de carga de modo a codificar os zeros e uns do sistema binário.

Materiais ferroelétricos em nano-escala têm cargas elétricas espontâneas e reversíveis, ou seja, os dois pólos elétricos podem se reverter espontaneamente. Material adicional é necessário para varrer os fios e estabilizar os pólos.

As moléculas de água ajudam a estabilizar o processo. "Se comercializada, uma memória ferroelétrica criada a partir destes nano-fios poderia chegar aos computadores domésticos, tornando os HDs atuais obsoletos. A capacidade extrema fornecida por estes dispositivos poderia facilmente colocar o equivalente a uma sala repleta de discos rígidos em um cartão de bolso, mas esta idéia também pode ser aplicada a outros componentes computacionais, como uma memória RAM ferroelétrica", diz o comunicado da universidade.

De qualquer forma, para comercializar a tecnologia ainda seria preciso que outros nano-fios lessem e escrevessem dados nos fios de gravação. Isto iria requerer algo como um chip de material estável com uma jaqueta de água cercando cada nano-fio e cerca de 12,8 trilhões de conexões externas deste chip para os fios de leitura e gravação.

Leia o mencionado comunicado da universidade em snurl.com/ql7k, onde se lê que, com a referida tecnologia, no futuro poderemos ter, por exemplo, um iPod tocando música continuamente durante 100 mil anos sem repetir uma única canção, ou mesmo um pen drive USB com capacidade para armazenar 32,6 milhões de DVD's na íntegra.

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1012451-EI4799,00.html

Sonhos para os libertos

No último artigo que publiquei aqui, o autor faz referência a uma carta enviada pela princesa Isabel ao Visconde de Santa Victória. Fiz uma googlada e achei o texto.

A carta pede Reforma Agrária para as pessoas negras recém libertas.

11 de agosto de 1889 - Paço Isabel Corte midi Caro Senhor Visconde de Santa Victória

Fui informada por papai que me colocou a par da intenção e do envio dos fundos de seu Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do ano passado, e o sigilo que o Senhor pediu ao presidente do gabinete para não provocar maior reação violenta dos escravocratas.

Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil.

Nosso amigo Nabuco, além dos Srs. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderem dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Câmaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o Brasil!

Com os fundos doados pelo Senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seus bens, o que demonstra o amor devotado do Senhor pelo Brasil. Deus proteja o Senhor e todo a sua família para sempre!

Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu estimado sócio, o grande Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos ingleses de forma desonesta e corrupta. A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil!

Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar mais um pouco. Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da liberação dos cativos.

Quero agora me dedicar a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro domestico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino! Si a mulher pode reinar também pode votar!

Agradeço vossa ajuda de todo meu coração e que Deus o abençoe! Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Vitória e toda a família. Muito de coração ISABEL

Escravidão

Outro dia, tentei escrever alguma coisa a cerca do 13 de maio e a comemoração da Lei Aurea. Naquele momento não consegui articular um bom texto, mas hoje, em uma das minhas visitas ao Blog do Noblat li um artigo simplesmente fenomenal.

É um exemplo do texto "diz tudo".
Como já mencionado, o artigo foi achado do site Blogdonoblat.com.br, mas é de autoria de Ruy Fabiano, jornalista.

O texto integral segue abaixo.


A escravidão e a crise

Ruy Fabiano

Joaquim Nabuco, uma das lideranças abolicionistas mais expressivas do século XIX, previu que, durante muito tempo, o Brasil viveria os reflexos adversos do longo período em que foi escravocrata – mais de três séculos. É uma ferida que se recusa a cicatrizar.

Os índices alarmantes da crise social brasileira e de um de seus mais dramáticos subprodutos – a criminalidade – mostram que Nabuco acertou em cheio, mesmo sem ser profeta. Nem era necessário que o fosse. O modo como a escravidão foi abolida no Brasil tornou a Lei Áurea não um diploma libertador, mas a primeira demissão coletiva de nossa história.

Os escravos não foram indenizados, nem guarnecidos por qualquer programa de governo que os incluísse socialmente. Não receberam terras, não tiveram acesso à educação. Foram se ajeitando como puderam – e lhes foi permitido - nas periferias das cidades, submetendo-se a subempregos e biscates, tão dependentes quanto antes da casa grande, só que, uma vez “libertos”, sem a contrapartida da senzala.

Passou a vigorar aquilo que, na gíria dos malandros cariocas, chama-se de “lei de murici” – cada um que trate de si. Enquanto escravos, tinham ao menos quem deles cuidasse e alimentasse, já que constituíam patrimônio de grande liquidez.

Escravo sadio era cheque ao portador. Poderia ser usado para quitar débitos, servir de aval em negociações bancárias ou mesmo constituir dote nas transações matrimoniais dos seus senhores.

A abolição, nos termos em que se processou, submeteu aquele imenso contingente de seres humanos a condições ainda mais iníquas que as da escravidão. Sem liderança e sem ter quem por eles falasse, restou-lhes submeter-se ao novo cativeiro, que prossegue até hoje.

Um assalariado, submetido ao precaríssimo sistema de transporte e saúde, péssima alimentação, nenhum lazer e nenhuma segurança, padece mais que um escravo.

O resultado aí está: PCC, Comando Vermelho e coisas do gênero. O narcotráfico, de quebra, criou uma equação inesperada, um nó cego, para a crise social brasileira: propiciou que esse vasto contingente se capitalizasse - e se armasse até os dentes.

Hoje, no Rio e em São Paulo – e em diversas outras capitais -, há milhares e milhares de jovens, reféns do narcotráfico, servindo de mão-de-obra barata para o crime. São seres anônimos, com cujo destino ninguém se importa. Segundo a OAB, há, na periferia de São Paulo, cerca de 1 milhão de jovens, entre 16 e 24 anos, que nem estudam, nem trabalham – nem têm a perspectiva de uma coisa ou de outra. São vistos como insetos pela classe dominante.

Os jornais dão conta de que a polícia já eliminou (escrevo na manhã desta quinta, 18.05) 93 deles, nestes dias de conflito. Como os conflitos prosseguem e a paranóia deve aumentar, esse número ultrapassará fácil, fácil a casa da centena. Imagine-se que garantias terá um jovem negro ou mulato, surpreendido numa rua da periferia paulistana, à noite, ao ser percebido por um policial (que, em regra, é também jovem e mestiço e mora igualmente na periferia).

É ali que os suspeitos estão sendo eliminados, aos montes. A maioria nem é identificada. São “presuntos” (a terminologia é quase oficial, usada com naturalidade por policiais e repórteres do setor), despejados no Instituto Médico Legal.

Estimativas oficiais indicam que, em todo o país, o número de jovens ociosos entre 16 e 24 anos chega a 7 milhões – contingente superior às populações somadas do Uruguai e do Paraguai. A economia do país, por seu turno, há anos cresce a índices vegetativos, sem gerar empregos e perspectivas. Ano passado, foi de pouco mais de 2%, equivalente à do Haiti, país em guerra civil e um dos mais pobres do planeta.

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, em surpreendente entrevista a Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo (surpreendente para um político conservador, do PFL), não hesita em debitar à “burguesia branca e perversa” a responsabilidade pela crise social – e, portanto, pela guerra urbana de São Paulo. Menciona as circunstâncias espúrias em que foi feita a abolição da escravidão no Brasil, em que o senhor - e não o escravo - foi indenizado.

Lembra que, no Brasil, essa mesma burguesia, que dá entrevistas indignadas à imprensa, cobrando providências contra a crise social, “explora a sociedade, seus serviçais, explora todos os serviços públicos”. E ainda: “Querem (os burgueses) estar sempre nos palácios dos governos porque querem ter benesses do governo. Isso não vai ter aqui nesses oito meses [prazo que resta para Lembo deixar o governo].”

Num crescendo de indignação, avisa: “A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira, no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.”

Nem a esquerda está sendo tão áspera em sua retórica. Será que a burguesia – de que Lembo é esplêndido um exemplar – finalmente acordou? Ou será apenas mais um espasmo?

Há dias, a propósito da celebração de mais um 13 de maio (o 118º desde a Lei Áurea), foi divulgado um documento inédito – e altamente oportuno – da História do Brasil: uma carta da Princesa Isabel, datada de 11 de agosto de 1889 (um ano e três meses após a abolição), endereçada ao Visconde de Santa Victória, dando conta dos esforços, dela e de seu pai, Dom Pedro II, para prover condições dignas de sobrevivência e inserção social dos ex-escravos.

A princesa defende indenização aos recém-libertos, constituição de um fundo para compra e doação de terras pelo Estado e ajuda pecuniária para a exploração agrária. Em vez de gerar efeitos, o documento foi mantido secreto. Só agora veio à luz, coincidindo com a eclosão da guerra urbana de São Paulo.

A Abolição brasileira, além de pôr em cena outra forma de escravidão, acabou sendo estopim de uma espúria aliança, que uniu ex-escravocratas inconformados a republicanos exaltados – e ambos, sob o comando dos militares, proclamaram a República.

Isso explica a tortuosa trajetória de nossa república, que jamais fez jus ao seu sentido etimológico. No Brasil, como bem lembrou Cláudio Lembo, a república não é pública. É privada – e precisa ser urgentemente reproclamada.

Com a palavra, os candidatos à Presidência.

quarta-feira, maio 17, 2006

Para quem gostaria de saber o que os EUA fariam se...

Tão bom quanto criticar a atuação de Lula na “crise da Bolívia”, era especular o que os Estados Unidos fariam se a afronta fosse contra eles.

Pois bem, agora sabemos.

Em textos publicados tanto na sagrada Folha, quanto na BBC Brasil, minha favorita, assistimos com expectativa a atitude do governo equatoriano contra uma empresa americana.

Vejam as chamadas de página:

Folha

“Equador rescinde contrato com petrolífera americana e EUA anunciam retaliação”;

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u107746.shtml

BBC Brasil

“Tropas do Equador ocupam instalações de firma dos EUA”

http://www.bbc.co.uk/portuguese/economia/story/2006/05/060517_oxyequadoras.shtml

Para os preguiçosos, eu separei os textos dentro das matérias que mostram qual é essa retaliação:

Folha

“Em retaliação, o governo George Bush decidiu hoje suspender as negociações para um acordo de livre comércio com o Equador, iniciado em 2004. À época, os EUA iniciaram negociações com o Equador, Peru e Colômbia para a assinatura de um tratado de livre comércio.”

BBC Brasil

“Em represália, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, suspendeu as negociações para um tratado de livre comércio com o Equador.

Neena Moorjani, porta-voz da Casa Branca, disse que o governo americano estava "decepcionado" com a decisão de enviar soldados para as instalações da Oxy e com a rescisão do contrato.

O governo americano considerou a medida como uma "apreensão" dos ativos da companhia."

Enxergo essa atitude do governo equatoriano previsível, não que estivesse acompanhando a crise para dizê-lo agora, mas porquê acredito que a Bolívia abriu um caso precedente que agora pode incentivar outros governos principalmente na América Latina.

Já era sabido que o Equador movimentava-se junto a Hugo Chavez e essa prova de obediência à Venezuela, explicitada com uma ação contra o grande demônio ocidental (adorei o drama) só corrobora com a certeza de um Chavez forte e claramente líder no Cone Sul.

As eleições peruanas ainda em 2006 irão mostrar muita coisa. Os dois principais candidatos daquele país têm características opostas e um deles é um dos hermanos venezuelanos. Sua vitória poderia comprovar de uma vez por todas a crescente onda de influência no norte da América do Sul.

Para os próximos meses, a curiosidade também é forte quanto a crise uruguaia-argentina. Tradicionalmente a Argentina era alinhada a política externa americana, o que mudou nas mãos do vesgo (nada pessoal) Kitchner. Essa quebra histórica pendeu a favor dos esquerdismo moderno que vive essa parte da américa e obviamente desagradou a américa (agora leia-se EUA). Ainda para explicar esse panorama, o Uruguai anunciou a cerca de uma mês sua pretensão de abandonar o Mercosul e celebrar acordo bilaterais com os americanos, assim como faz o Chile. O que eu quero dizer com isso tudo?

O Uruguai manterá a construção das fábricas de celulose na fronteira com a Argentina, receberá apoio logístico americano, cujo interesse não é somente político, mas também econômico, já que as empresas interessadas na empreitada têm capital ianque.

A principal crise política entre os dois países desde 1955 ainda não chamou a atenção dos vizinhos, mas uma suposta ajuda americana, com certeza exigirá de Chavez uma atitude.

Como eu dizia, a curiosidade é forte para a região quando tentamos imaginar qual será a postura do governo Lula. Arrisco dizer que o sapo barbudo tentará assumiu uma posição de mediador das conversas e o que ganhará com isso, para meus olhos, é uma incógnita. Não que eu reprove a ação, mas ainda desejaria uma tomada de posição, façamos valer também os interesses que o presidente têm nesse canto de mundo.

Agora é esperar para ver. Mas estamos de olho.

terça-feira, maio 16, 2006

Que circo

Mas quem será que são os palhaços?

Meu Deus! O que está acontecendo em São Paulo? Fui pego de surpresa com toda essa violência.

Porque isso tudo? (Essa pergunta é tipo “TODO MUNDO QUER SABER”, mas é sério, fui pego de surpresa)

Rebeliões simultâneas em três estados, ônibus queimados, ataques a policiais nas ruas, agências bancárias saqueadas e tudo isso comandado de dentro de uma cadeia. Como assim?

Mas não se limita a isso. Porque será que o governador paulista se recusou a aceitar ajuda federal? Porque preferir negociar com o PCC antes de usar o exército?

Como escrevo para meu blog, posso dizer que tudo isso faz parte de um grande esquema conspiratório. O Canário (caboco com quem divido apartamento) que me perdoe; mas não tem outra explicação.

E vou explicar minha teoria indo direto ao assunto. Acho que o governo federal de alguma forma participou em todas essas rebeliões. Acho que o objetivo é melhorar a imagem do exército junto a população para caso as eleições não sejam favoráveis, Lula manter o poder. Pronto, falei.

Muita coisa aponta nesse sentido. Militarização (a propósito, o pessoal aí ficou sabendo dos 250 novos tanques de guerra comprados na Alemanha?) e apoio total a governos de tendência militares (Evo, Chaves e Fidel). Só nos últimos 2 anos, o exército já ocupou as ruas de algumas capitais duas vezes e em ambas teve sucesso absoluto.

Nesses mesmos últimos 2 anos, não foi feita sequer uma denúncia contra o exército, (exceto os mandos e desmandos daquele general no aeroporto, mas de qualquer forma, a crítica não foi contra a instituição militar) eles tão tramando alguma coisa gente.

Mas por agora, parece que nossos líderes finalmente controlaram a situação.

"Cúpula do PCC ordena fim dos ataques em SP"

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u121590.shtml

Parece até piado, viu.


Cuidado


Cuidado!!!
"Família de mexicanos iligais entrando nos Estados Unidos ilegalmente", a frente.


Que foto bacana...

Cumprindo promessas

Como eu tinha prometido, aqui estou eu para comentar sobre aquele blog que divulguei uns dias ai pra trás. Não exatamente que alguém se interesse, mas prefiro pensar que cumpro minhas promessas...

Porque dividir com os outros alguma coisa tão pessoal? Acho que é porque precisamos!

Quando alguma coisa muito boa acontece com a gente, uma boa nota na prova, aquela mina gata dando mole, um dinheiro que não esperava (a ordem das informações não condiz com uma escolha pessoal de importância – por favor, não me chamem de CDF), tudo isso só faz mesmo sentido quando dividido com alguém. A felicidade não é estrita ao gosto pessoal, vivências; mas essencialmente a opinião dos outros. Ser feliz é acima de tudo ser reconhecido como um alguém feliz.

E esse viver para os outros se estende ainda mais. Ser infeliz, ter um problema, também não se limita ao indivíduo, mas também ter reconhecido pelos outros, que temos um problema.

Acho que é esse o lance do site. Uma grande felicidade, comumente podemos compartilhar mas nosso problemas e medos, esses infelizmente não vinculamos a nossa imagem mas ainda precisamos ter no outro a confirmação daquilo que pensamos; algo como pensamento coletivo.

Bem específico sobre aquele post, quando alguém se admite com vontade de tirar a própria vida. Quer dizer, ele só pode entender o significado dessa atitude, quando a vê refletida no peso que os outros darão. E como ele saberá? Aposto que comentou com outras pessoas para que vissem o post e portanto automaticamente, elas comentariam sobre aquilo e naquele momento ele se veria finalmente sendo julgado. E como é gostoso ser julgado...

Como assim? Muitas vezes reclamamos que não gostaríamos que outras pessoas acompanhassem ou julgassem nossas vidas. Mas indubitavelmente, precisamos disso. E digo mais, gostamos quando vemos que um outro alguém despendeu parte de suas valiosas horas para pensar e dar um juízo de valor sobre o que somos ou fazemos.

Afinal, o ser humanos é objetivamente e pragmaticamente social.

Um último resgate, ainda sobre o indivíduo que iria suicidar ou suicidou, sei lá.

Quando ele comentou que vagou pela cidade procurando um lugar para comprar a arma e tal. Encontrou pessoas, conversou, brigou ou mesmo desviou um olhar com um estranho. Isso é o mais interessante, podemos a todo instante cruzar no mundo com alguém que está indo se matar, ou para não ser tão dramático, que vai morrer nessa noite ou até imaginem só, você pode ser alguém que um outro alguém irá se apaixonar instantaneamente mas talvez, esse outro vai morrer nas próximas horas. Legal isso, neh?

Talvez nem tão legal assim.

Então lembrem-se, Deu vontade? Faz na rua mesmo.

terça-feira, maio 09, 2006

Não vou nem falar nada, viu


"Depois do gás e do petróleo, é vez da terra: o governo da Bolívia acerta os últimos detalhes de um pacote agrário que vai afetar diretamente a vida de brasileiros naquele país.

O decreto de reforma agrária ainda não foi assinado pelo presidente Evo Morales, mas já inquieta. O presidente da câmara Agropecuária de Santa Cruz de la Sierra, Maurício Roca, representa mais de 60 mil produtores que têm terras na Bolívia, entre eles mil brasileiros, com fazendas próximas da fronteira com o Mato Grosso do Sul.

"Os produtores brasileiros que estão trabalhando em Santa Cruz de têm uma participação muito importante na produção agropecuária, especialmente na soja, perto de 40% da produção. Esse clima de instabilidade não é bom" , diz Roca.

Pela proposta que está sendo discutida em La Paz, propriedades de estrangeiros que estiverem do lado boliviano a menos de 50 quilômetros da fronteira vão ser desapropriadas, como já determina a Constituição. Em qualquer parte do território, fazendas improdutivas vão ser destinadas à reforma agrária para o assentamento de 2,5 milhões de bolivianos. Plantações que tiverem avançado sobre áreas de bosques podem ter o mesmo destino.

O ministério da Agricultura da Bolívia estima que pelo menos 200 brasileiros devem perder suas fazendas. Depois de nacionalizar o gás e o petróleo, agora o governo boliviano tenta levar adiante o que chama de "nacionalização" da terra.

Os brasileiros quem têm terras num raio inferior ao permitido sabem da sua condição irregular na Bolívia. “A documentação que nós temos não é a documentação oficial do governo, é uma documentação de compra de posse, não é definitiva”, diz um produtor rural brasileiro. “A gente tem medo do que o governo possa vir a fazer”."

http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20060508-166693,00.html

Eu disse que tinha mais coisa vindo, não disse?


segunda-feira, maio 08, 2006

Sobre medos e segredos


O que chamaria mais a sua atenção, descobrir um segredo mantido a 7 chaves, ou saber que um alguém, ou milhares de alguéns descobriram o seu?

Interessantemente, um blog oferece um serviço que de alguma forma oferece as duas possibilidades.

Não sei se alguém ai já entrou no PostSecret (http://www.postsecret.blogspot.com/) ou se talvez o tenha, provavelmente não se deu ao trabalho de ler alguns dos textos lá publicados, afinal, todo o conteúdo está em inglês.

Mas esse é um dos poucos blogs que têm minha visita freqüente, o que ele oferece, basicamente, é que qualquer pessoa crie um cartão postal e conte um segredo. Não sendo identificado, a imagem do postal é exibida no site. Ao acessá-lo, você pode conhecer os segredos de milhares de internautas, e saber, que muitos deles têm problemas como os seus, ou melhor, como os nossos.

A muito tempo eu gostaria de falar um pouco sobre esse blog, mas hoje, em especial, um desses segredos me chamou a atenção. Momento perfeito para comentá-lo aqui, e obviamente, exibi-lo.

Imagino, por um segundo, como deve ter ficado aliviado o sujeito que enviou essa mensagem.

O postal é, obviamente, esse publicado aí em cima. Aqui em baixo segue a tradução. Vocês vão entender assim que a lerem.

“Eu dirigi pelas ruas todo o dia, procurando algum lugar que me vendesse uma arma e a entregasse no momento da compra. Descobri que a lei funciona porque é amanhã e EU AINDA ESTOU VIVO”.

Vou dar um minutinho para que vocês (ou talvez você – será que tem alguém ai?) visitem o site e depois eu comento exatamente o que penso sobre ele.

sexta-feira, maio 05, 2006

Sobre a vida


Nunca fiquei tão empolgado em postar nesse blog. Mesmo sabendo que só o João (VALEW!) está lendo, é como se eu conversasse comigo mesmo. Quero dizer, um espaço para que o restante do meu corpo conheça as idéias produzidas “lá em cima”.

Péra aí! Não era sobre isso que eu iria falar, o objetivo era continuar o assunto da crise do gás, mas essa minha última frase, me chamou a atenção e gerou um pensamento...

E se (“todos os direitos reservados”) em alguma instância, nossos membros possam individualmente (palavra propositalmente escolhida, cuja idéia corrobora com a construção do termo indivíduo, organismo social dotado de inteligência) repito, individualmente, pensar e fazer decisões.

Lembre que seu braço ou sua perna são compostos por células, a parte primária da vida, capazes de gerar energia, se reproduzir e seguir rotinas, quero dizer, cada célula seria como uma pessoa que trabalhando juntas permitiram o funcionamento do organismo maior, incondicionalmente superior a existência desses “parceiros”, EU.

Todos esses pedaços da vida suprema, o eu, tem sua existência subordinada e determinada pela simples noção de algo maior. E digo noção, porquê não sou capaz de assumir que essas células possam perceber sua existência enquanto parte do todo, pelo menos, não a maioria e claro reservo um espaço carinhosamente especial para aquelas que se destacassem e que intelectualmente pudessem perceber esse modo de vida tão dependente.

Então, essa simples noção faz com sigam diariamente, nascendo, se alimentando, reproduzindo e morrendo, financiando, se não subordinando com suas próprias vidas, que eu possa também viver e me autodeterminar.

Algum revolucionário, quem sabe um entre elas (células), poderia dizer que isso caracteriza um saque. Afinal, o eu todo poderoso faço uso das pobres colaboradoras para meu próprio viver. Mas pera aí, elas não são somente colaboradoras, são parte do todo. São essencialmente determinantes para a própria noção de existência do todo, e esse conceito deve ser trabalhado com um pouco mais de cuidado.

Cada célula não é especificamente necessária para a sobrevivência maior, mas elas em números são determinantes. Relembrando que EU sou o TODO, ao qual me refiro aqui, suponho minha existência a essa noção de números, de partes, de colaboradoras. Não SOU mais que o trabalho conjunto de um grupo de operárias exclusivamente consideráveis enquanto grupos, lembrando que o termo exige a noção de “maior que um”.

E se formado por elas, não negaria que delas carrego algumas características.

O texto deveria terminar aqui, e tenho certeza que o João já entendeu o que eu estava dizendo, mas quero me aprofundar um pouco mais.

A partir de agora, passo a considerar o EU enquanto um organismo já previamente unificado, e a noção de TODO se desfaz daqui pra frente.

Vamos pensar nessas características. Bem como elas, sou capaz de produzir minha própria energia, utilizando-me somente do ambiente onde estou inserido. Esse dependência fisiológica me permite viver sem ter de me associar a outro organismo. Bem como elas, nasço fruto de outros seres de quem sou semelhante, cresço, me reproduzo e inexoravelmente morrerei.

Minha existência, entretanto, e como a delas, não se limita ao simples ato puro do viver, por opção da minha espécie, prefiro pensar, nesse momento, em opção; faço da minha vida uma forma de sustentar um desenvolvimento maior, a sociedade. Ofereço minha vida pela sociedade e ela me dá em troca, segurança, prazer, satisfação e condições diferenciadas de vida. Nesse momento, histórico-cultural-moderno-judaico-cristão-ocidental, não posso oferecer os termos supracitados, porquê eles são essencialmente únicos do ser humano, uma célula “não poderia jamais tê-los / amém”.

Mas se ao mesmo tempo, criamos um organismo social que nos é imagem e semelhança, nesse momento poderia dar um nome a esse organismo, o que vocês (ou melhor você, João) acha de Deus ou Alá? Então, esse organismo social que nos é semelhante, se lembrarmos que nós também não somos maiores nem temos descrições sobre o homem superiores a “organismo”, temos obviamente que considerar que nossa construção, NÓS enquanto produto final deverá também ser produto direto e semelhante daquilo que nos compõe.

E quando lembramos das características que supostamente aproximaria o homem das células, já citados, vemos que eu falo a verdade, assumindo por um segundo que ela é capaz de ser alcançada, e o faço porque enquanto Deus (preferi a palavra agora) devo satisfação aos meus bilhares de devotos, porquê mesmo trabalhando arduamente, sei que todos aqueles glóbulos, independente de raça ou cor, vêm em MIM, o ser maior, capaz de fazer qualquer coisa, porquê EU sou o dom da vida e é para mim que todos esses microorganismos se sacrificam diariamente. E é justamente essa característica de TODO que me permite chamar meus caros fiéis de micro, menores, incapazes de reconhecer e perceber plenamente a própria existência.

Definitivamente, não somos diferentes, em NADA, das pobres células. E nesse mundo de cá, quem são os cânceres e os vírus? Ou melhor, quem são os cérebros e corações?

Quanto aos intestinos, acho que posso pensar em alguns nomes.

Obs. Apesar de fugir totalmente do tema, postei a foto que eu tinha separado para a ocasião. Ela se explica por si só.

quinta-feira, maio 04, 2006

Não estou sozinho

Sempre me falaram que as vezes eu exagero, e dessa vez nao foi diferente.

Mas vejam só. Quando eu disse que a medida do presidente boliviano 'Evil Morales' era uma afrontao ao povo brasileiro e que nosso presidente foi frouxo na resposta, de imediato disseram, novamente, que eu estava exagerando, que não era assim, que tudo tem que ser na conversa.
Não vou responder nada, só leia isso:

"Brasil desarmado

Miriam Leitão: na reunião em Puerto Iguazú, só vão sair palavras vazias. O presidente Lula preparou tudo para entregar o jogo, como ele tem feito desde que essa crise com a Bolívia começou.

O Brasil armou hoje o jogo para perder. Da reunião em Puerto Iguazú, com os presidentes da Venezuela, Bolívia e da Argentina, só vão sair palavras vazias. O presidente Lula preparou tudo para entregar o jogo, como ele tem feito desde que essa crise começou.

Ele não poderia aceitar a presença de Hugo Chávez. Chávez foi A La paz, deu apoio a Evo Morales e os dois estão indo juntos. É uma armadilha. Chávez é conselheiro de Morales.

A reunião de hoje é mais um erro da diplomacia brasileira - erro primário, na opinião de ex-embaixadores. Ontem eu falei com o embaixador Rubens Ricupero, que se disse indignado com a fraqueza da reação brasileira.

Ricupero disse o seguinte: “Nunca fomos assim tão fracos. Nunca aceitamos negociar quando o outro lado está em uma posição de força. Nunca fizemos confusão ideológica na política externa”.

Não são só os especialistas os críticos à forma como o Brasil vem conduzindo a situação. Empresários em São Paulo estão preocupadíssimos. Eles voltaram a dizer que estão suspendendo planos de investimento. Um deles falou de um investimento de R$ 40 milhões agora na gaveta.

É um problema concreto: a indústria cresceria usando o gás da Bolívia, porque já migrou para o gás, e isso custa caro. Lucien Belmonte, da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), me contou que há cinco anos a Petrobras pediu à indústria de vidro que passasse para o gás natural.

Ela fez isso, e hoje 95% da produção de vidro do Brasil usa o gás da Bolívia. Para a indústria paulista crescer, precisa que a Petrobras invista na Bolívia para aumentar a oferta de gás. Mas a Petrobras avisou ontem que não vai mais investir - e é claro que não pode mesmo.

O embaixador Ricupero lembra que a Petrobras foi para a Bolívia para cumprir acordos negociados de estado a estado. Portanto, segundo o embaixador, o que a Bolívia está rasgando não é o contrato com uma empresa: é um acordo com o estado brasileiro."

Gente, eu estou falando, tudo isso aliado ao anúncio da aliança estratégica entre Morales e Chavez, não tem coisa boa vindo ai não. E lembrem-se, Morales anunciou que quer nacionalizar também, toda a produção de base natural do país, o que incluirá fazendas de produtores brasileiros, importantes para o abastecimento de carnes, milho e soja no país.

Entregar a mão agora, implicará em entregar o braço em seguida e... O final da frase? Todos já sabemos. Mas pelo jeito, o presidente NÃO.

terça-feira, maio 02, 2006

E agora, Lula?

Primeiro: Foi a China que recebeu do presidente brasileiro a confirmação de que era Economia de mercado, em troca de um voto pra cadeira do conselho de segurança. No dia "D" a China nem aí pra barganha e disse não.


Segundo: O nosso presidente perdoa a dívida dos africanos para com o Brasil, diminui tarifas, isenta impostos, na importação, tudo para receber o mesmo voto para o CSN, e a resposta também foi não.

Terceiro:: O presidente cria condições de mãe para os Uruguaios. Investe naquele país, derruba barreiras alfandegárias, bajula tanto que chega a condição de doar um helicóptero esquilo a armada daquele país, só porque o uruguaio disse que queria ter um (como se a Marinha fosse abastada de aeronaves), e agora o Presidente Tabaré Vázquez diz que vai sair do Mercosul, pois ele "é mais um problema do que solução".

Até quando vamos aceitar ofenças tão graves à dignidade do povo brasileiro e a condição de destaque no cenário político internacional?

E agora com a atitude do governo boliviano de desapropriar a Petrobrás?

Normalmente apoio a resolução diplomática a qualquer custo. E dessa vez, a diplomacia só se dará com o subsídio da força.

Ontem a noite, em entrevista ao Jornal da Globo, o ex embaixador brasileiro em Washington disse que para manter a posição de liderança na América do Sul, o Brasil deverá, agora, tomar atitudes sérias contra a Bolívia para evitar que esse desrespeito judicial se estenda a outros países.
E como a atual política externa brasileira quer a entrada do Brasil no conselho de segurança da ONU, não podemos, nem deveremos abaixar a cabeça.

O país vive uma situação única, a atitude do presidente boliviano não foi uma simples medida de proteção de mercado, mas uma ação séria e beligerante contra os interesses econômicos brasileiros.
Por isso, defendo o uso da força militar, mas não com o intuito leviano de guerra, mesmo porquê, pessoalmente, acredito que o país não está preparado para suportar uma; mas assim como a Bolívia já o fez, devemos usar as forças armadas como subsidiadora da decisão brasileira ao exigir que o presidente Morales volte atrás com sua decisão e retorne o patrimônio das empresas instaladas no país.

"ão é questão de orgulho nacional, mas de enxergar uma realidade geopolítica. O Brasil perdeu o controle na relação com as lideranças vizinhas que ajudou a fomentar. Isso não significa defender a ingerência nos assuntos internos da colcha de retalhos de países deixados como principal lembrança do Bolívar hoje tão reverenciado, mas esperar que Brasília ocupe seu lugar de líder regional com a "altivez" sempre tão propagandeada pelo governo.

É argumentável que a Petrobras tenha tratado a Bolívia como parceira subalterna desde que transformou o gás do país numa matriz energética essencial para o Brasil. Talvez tenha agido como "vilã imperialista" mesmo, e seja necessário respeitar o indígena que resgata seu país de humilhações seculares.

Mas não é sinal de "vigor democrático" ver militares comandados por um suposto aliado ocupando instalações brasileiras. É distorção achar que é preciso tratar os vizinhos mais pobres com paternalismo. É preciso pragmatismo sem arrogância, clareza no cumprimento de pactos e cooperação dentro da realidade.

O Itamaraty, seja ele lulista, tucano ou "bolivariano", precisa voltar ao seu papel primordial, a defesa do chamado 'interesse nacional'."

Não havendo concenso...? A gente conversa sobre isso depois.