Continuação.
"Ainda não era capaz de devagar sobre a vida, sobre o que representava, mas entendeu, plenamente, que estava ali sozinho, fazendo a sua parte. Como uma pequena peça da grande máquina endireitou as costas, repousou a palma das mãos sobre as coxas e fez, matematicamente, o que deveria fazer. Esperou".
Com o pensamento absorto na partida, refletiu...
Não existe tempo sem arrependimento, nem novidade sem tristezas...
De novo, chego à conclusão que pra tudo nessa vida tem hora e lugar certo. Não adianta tentar antes, não adianta se arrepender por deixar para depois.
A vida muda de uma forma tão rápida e generalizada, que em meio a esse turbilhão de informações e notícias, muitas vezes só efetivamente percebemos o fluxo do tempo em breves comentários ou singelas palavras deixadas para trás.
Se um dia levantei a questão do “o que é complicado e o que vale a pena”, hoje sou mais o “tudo vale a pena”. Talvez até emendando o “quando a alma não é pequena”.
Por julgar de mais, por querer de mais e mesmo assim ainda deixar para depois, perdemos tanto... Perdemos oportunidades por pensar que haveria uma melhor, quando a ideal é justamente o momento. E esse mesmo momento, renegado, terá sua vingança somente algum tempo depois, quando nos assistir arrependidos, tristes, largados aos cantos suplicando não a Deus, mas ao próprio tempo, se não, o momento.
O interessante é observar que agora, a lucidez ameaça invadir meus olhos, mas fraco, permito que mentiras e ilusões me aconcheguem de forma tão doce e vil.
“Não valia a pena mesmo...”, “Deus há de me querer melhor...”, “porque essa era a única maneira...”.
Repudio a esperança, a fé cega e o amor fingido. Repudio tudo aquilo que não me deixa sentir, como devo sentir. Odeio o conforto dos sonhos. Prefiro agora sofrer com o calor do aço que penetra fundo na pele, porque a dor intelectual é a única capaz de me mostrar a verdade.
Quero abandonar os vícios dos sentimentos cegos, dos confortos e reconfortos.
Já sonhamos de mais, já sonhei de mais.
De olhos ainda fixos, suspirou enquanto virava o rosto, pela primeira vez, para fintar os passageiros do trem.