quarta-feira, agosto 30, 2006

Devaneio presunçoso 4

Homem aí do lado.
Continuação.

"Ainda não era capaz de devagar sobre a vida, sobre o que representava, mas entendeu, plenamente, que estava ali sozinho, fazendo a sua parte. Como uma pequena peça da grande máquina endireitou as costas, repousou a palma das mãos sobre as coxas e fez, matematicamente, o que deveria fazer. Esperou".

Com o pensamento absorto na partida, refletiu...

Não existe tempo sem arrependimento, nem novidade sem tristezas...

De novo, chego à conclusão que pra tudo nessa vida tem hora e lugar certo. Não adianta tentar antes, não adianta se arrepender por deixar para depois.

A vida muda de uma forma tão rápida e generalizada, que em meio a esse turbilhão de informações e notícias, muitas vezes só efetivamente percebemos o fluxo do tempo em breves comentários ou singelas palavras deixadas para trás.

Se um dia levantei a questão do “o que é complicado e o que vale a pena”, hoje sou mais o “tudo vale a pena”. Talvez até emendando o “quando a alma não é pequena”.

Por julgar de mais, por querer de mais e mesmo assim ainda deixar para depois, perdemos tanto... Perdemos oportunidades por pensar que haveria uma melhor, quando a ideal é justamente o momento. E esse mesmo momento, renegado, terá sua vingança somente algum tempo depois, quando nos assistir arrependidos, tristes, largados aos cantos suplicando não a Deus, mas ao próprio tempo, se não, o momento.

O interessante é observar que agora, a lucidez ameaça invadir meus olhos, mas fraco, permito que mentiras e ilusões me aconcheguem de forma tão doce e vil.

“Não valia a pena mesmo...”, “Deus há de me querer melhor...”, “porque essa era a única maneira...”.

Repudio a esperança, a fé cega e o amor fingido. Repudio tudo aquilo que não me deixa sentir, como devo sentir. Odeio o conforto dos sonhos. Prefiro agora sofrer com o calor do aço que penetra fundo na pele, porque a dor intelectual é a única capaz de me mostrar a verdade.

Quero abandonar os vícios dos sentimentos cegos, dos confortos e reconfortos.

Já sonhamos de mais, já sonhei de mais.

De olhos ainda fixos, suspirou enquanto virava o rosto, pela primeira vez, para fintar os passageiros do trem.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Sem título ainda

Nossa. Foi um longo tempo sem saber o que escrever.

Sem inspiração, começo esse texto, sem sequer imaginar como ele vai acabar.

Tentarei falar o suficiente para que alcance, ao menos, o padrão mínimo no tamanho de postagens desse blog.

Tocando no assunto, de onde vem a inspiração. O que Homero viu, ou sentiu para que pudesse escrever aquelas obras? E Shakespeare?

O mundo é um lugar bem bizarro. Mil coisas acontecendo nesse instante, bilhões de pessoas vivendo suas vidas, muitas se preocupando com tudo, outras tantas totalmente sem se preocupar, mas a maioria sem sequer saber sobre o que se preocupar.

Talvez você possa comentar: como esses dois últimos parágrafos se relacionam? Parecem devaneios aleatórios...? Mas não.

Explico. Acredito que a inspiração é uma das respostas geradas pela mente quando incentivada. A produção de grandes obras, melodias ou textos, vêm como fruto da observação do mundo a sua volta. É por isso, provavelmente, que os pobres mortais não são capazes de compor ou de criar maravilhosos mundos baseados somente na criação intelectual.

Aquele incapaz de criar coincide com o incapaz de observar.

Observar não é somente permitir que o reflexo luminoso invada o globo ocular, alcançando a estrutura ótica cerebral; isso é enxergar.

Observar é ver. Não necessariamente entender, muito menos expressar opiniões. Os mais sábios são aqueles que menos falam, porque sabem que a tradução em palavras é um artifício dos tolos. Os grandes homens simplesmente sabiam. E se deixaram textos, músicas, foi na tentativa de alguma forma incentivar as gerações futuras, ou mesmo aqueles que lhes eram contemporâneos. Incentivá-los a também extrapolar os sentidos e perceber o mundo de um jeito além.

Não nos esqueçamos disso. As grandes obras não estão aqui para nos ludibriar entre harmônicos sons e belas palavras, mas muito além. Estão ai para nos ajudar a entender o que existe além delas.

Não queira só enxergar, tente ver.

Não tente traduzir, simplesmente saiba.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Pequenas diferenças


O pequeno ser ai do lado, é o animal mais perigoso pra vida humana existente no planeta Terra. Suas vítimas são, com raras exceções, feridas de morte.

Composto por mais de 99% de água, o pequeno animal libera uma substância altamente tóxica, levando a morte um homem normal em menos de 4 horas.

Por que eu estou contanto isso tudo?

Antes de que você mude de canal achando que viramos uma versão online e degradada do Discovery Channel, fique sabendo que só estou contando isso tudo para levantar fatos e ter uma breve “discussão”.

Então vamos lá...

A água é a substância mais importante para se conceber a existência humana.

Em números e proporções, esse pequeno animal ai do lado tem de água pura (H2O) a mesma quantidade que encontramos num copo de água potável de um rio, por exemplo, isso porquê, na água do rio encontramos grandes quantidades de areia, microorganismos e tantas outras coisinha pequenininhas que não conseguimos enxergar. Uma pequena variação no 1% restante é o suficiente para transformar vida em morte.

Meio dramático, né?

Mas não estou aqui para fazer drama, mas sim para pensar um pouco mais sobre essas pequenas diferenças...

Um breve olhar pode transformar um “Acho que te quero” num “Não tem chance”. Uma palavra pode fazer de “Grandes futuros amigos” em “Ta ok então, até mais”. É tudo muito singelo, simples.

Não importa as grandes coisas que fazemos em vida, o entendimento sobre o mundo e especialmente, sobre os outros, se dá nos detalhes. Não importa o carinho com o qual cativou um grande amigo, não ligar no dia de seu aniversário é muitas vezes vital para ditar o futuro desse breve relacionamento.

O ser humano é essencialmente tolo. Aficionado por detalhes, não prestamos atenção na maior parte da conversa que temos todos os dias, mas ficamos facilmente magoados com breves detalhes do discurso alheio.

Ninguém diria que seu EU pode ser resumido por breves detalhes, facetas do seu comportamento diário, mas sim pela análise macro de sua vida. Dizemos que não podemos ser analisados só pelo que falamos ontem, mas pelo trabalho de uma vida. Paradoxalmente, a maioria admitiria que podemos conhecer o outro pelos detalhes.

Acredito que o cerne desse pensamento funda-se na vontade. O EU geral é trabalho de forma racional, virtualmente controlável e controlada; enquanto os deslizes, detalhes do dia-a-dia nos foge ao controle. Pensa-se então que EU fugido diz mais sobre MIM que o EU socialmente trabalhado.

Concordo que existe essa dicotomia entre um EU puro e outro mascarado. Concordo que muitas vezes assumimos personalidades que não são verdadeiras para conviver em público. Mas é ai que repousa o principal elemento de toda essa história!

Quando percebemos no outro essa fuga da realidade individual na tentativa de criar um segundo indivíduo, aí sim percebemos realmente que ele é. Perceber uma pessoa artificialmente intelectual ou “descolada” nos diz muito mais sobre suas características originais que qualquer comentário despreocupado.

Defendo então que paremos de julgar as pessoas por meros acasos, uma atitude assim só mostra nossa preguiça em realmente buscar entender o mundo. Passemos então a ativamente perceber todo um universo social fascinante que nos rodeia, buscando entender o mundo como um todo, para aí sim, descobrir quem são ELES ou VOCÊS e nesse processo desvendar as estruturas que também condicionam o EU, que muitas vezes escondemos de nós mesmos.

Sem frase de duplo sentido para o texto de hoje.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Sobre o que é complicado. E o que vale a pena.

As coisas deviam ser mais fáceis.

Já repararam como tudo o que nos é essencial, é algo bem simples de se fazer. Ainda não vi nesse mundo alguém reclamando pelo trabalho que temos ao respirar, muito menos ao se comer, afinal, esse vêm carregado de um prazer bem óbvio; a não ser que você seja um daqueles super ecologistas que comem rúcula com carne de soja – nisso não há prazer algum.

Se o que nos é realmente importante está assim tão fácil, que tipo de mecanismo mental é esse que associa a dificuldade com o retorno. Se não mental, pelo menos social. Afinal, não foi uma a vez que ouvi ser necessário trabalhar duro, se dedicar, para ser alguém na vida. Se tem que trabalhar, então não quero ser ninguém assim, “alguém na vida”.

E não é só sobre dinheiro não, é tudo mais. Acho que no início dos tempos, as pessoas tinham sonhos que realmente necessitavam de trabalho e dedicação, os velhos morreram mas deixaram as idéias serem, inescrupulosamente, passadas a meus pais.

Se sonharam com castelos e cavalos, vou ficando bem satisfeito com um apartamento de 2 quartos e sala com uma bicicleta simples na garagem. Se esperaram encontrar princesas de vestidos longos e tiaras de brilhantes, vou ficar feliz com uma garota de calça jeans e blusa branca.

Eles viveram e morreram pelos sonhos do que gostariam de ter, eu vou viver por aquilo que eu tenho. Na hora da minha morte, não quero deixar para trás sonhos e expectativas, só um sorriso no canto da boca daqueles que lembrarem de mim. Um sorriso maroto que acompanhe o pensamento “esse aproveitou”.

Mas no meio disso tudo, me lembro que uma vez me disseram que algumas coisas são complicadas, mas valem a pena. A brincadeira do conseguir também é divertida, desde que não esqueçamos a hora de parar de brincar para morder o bolo.

É ao som de Beatles que eu paro de só brincar.

“Oh ain't she sweet,
Well see her walking down that street.”
(Beatles - Ain't She Sweet).