domingo, dezembro 16, 2007

102

O “ser ou não ser” tornou-se famoso, mas ao “querer ou não querer”, poucos prestarão a atenção. Sozinho, acompanho passo-a-passo os passos de exemplos quem, supostamente, devia seguir. Mas incapacitado pelas auguras do presente sou incapaz. Vejo, sem ver, a escuridão demonstra-se tão claro quanto a luz. Quem sou? A resposta em clichê de um sentimento que transcendo palavras, músicas ou gestos. Cheio de anseios e sonhos, perdido em angústias e desejos, me delicio com a vontade de ser quem não sou, enquanto espero o momento de manifestar um EU podre, despreocupado, corrompido sem a noção do OUTRO.

Perdido nesse titubear de individualidades, roubo um pouco daqui e outro acolá para repousar na lembrança de que fiz o que devia ser feito. Independente do que agora realmente queria dizer. O “elas”, “ela”, “delas”, “dela” ficaram esquecidos num presente invocável, distante quanto a certeza de um presente irrevogável.

Quem sou agora? Perguntam ingênuos! Sou a luz da fogueira que se extinguiu na dúvida. A verdade que se perdeu na afirmação. Sou a faísca incapaz de produzir o fogo, a noção incapaz de ser concebida como verdade.

Sem sonhos ou desejos, me despido na incerteza da certeza, da verdade transformada em mentira, como a carne podre que tem certeza de ser carne sadia.

Saiba, ora pois, que verdades sempre transformam em incertezas quando os ventos são desfavoráveis, e que vento nenhum leva o barco ao porto certo.

Incerto, deposito minhas certezas nas expressões sem sentido, onde estão contidas todas os melindros dos entendidos e inverdades dos sábios em peito, mas covardes em palavras.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

101

Primeiro dia de jornalista é igual ao primeiro dia como jornalista bêbado.

As oficialidades da formatura ainda são em janeiro, mas a apresentação da monografia, que outros amigos jornalistas insistem em chamar de pornografia, é assunto do passado. Um ano preparando um texto que tive de resumir em 50 páginas que não expressaram metade do que realmente queria dizer. Senti como se Shakespeare tentasse resumir seu famoso Romeu e Julieta em – no bom inglês – “wanna do it? Yes, why not. What the crap? Cheat”.

Mas primeiro dia de jornalista é também a materialização final de uma responsabilidade que vinha se esboçando desde o início desse fatídico semestre. A responsabilidade do dinheiro, do emprego, do casamento e da vida independente, o que de forma irônica se mistura displicentemente nesse sentimento de vazio elevado. É como bater palmas para um peido.

Perdido, encontrei um umbigo que não queria ser encontrado, preocupado com as mil estrelas que se transformaram em pupilas, ardentes por novidades.

Recebi parabéns que soaram com o perverso “e agora?”.

Pergunta essa, que de tão melindrosa, dá um salto semântico para responder sozinha, “agora nada”. Gabriel Garcia Marques devia conhecer o sentido, porque a noção de começo e fim, misturadas nesse tufão de sentimentos, me lembra bastante as últimas páginas de “100 anos de solidão”. Ao chegar ao fim definitivo, momento que marca o definhar de todas as coisas, fica claro a noção de que desde o início, estávamos todos inescrupulosamente predestinados a sucumbir. Sinto o suspiro inicial, assistindo ao momento derradeiro. Início e fim ligados pela singela noção do presente.

Louco manso que sou, fico sozinho com sonhos e desejos, para definhar na solidão um sentimento de grupo. Os sonhos, repousam em ferramentas ultrapassadas, símbolos de tempos modernos. Os desejos presos a vontade de um telefone que só agora percebo ser sem coração.

Minha frase fica largada as reticências da expectativa do entendimento. O que me falta em palavras, sobra na esperança de que, apesar de incompleto...