sábado, julho 28, 2007

O pedaço de uma biografia

Culpa da ansiedade, não conseguiu dormir.

Deitado na cama, olhava um dos cantos da janela. Um pedaço quebrado do vidro permitia que a luz invadisse o quarto e incomodasse as pálpebras já inquietas. Não suportando o peso do corpo sobre o colchão, preferiu levantar. Caminhou até a porta e olhou discretamente para o corredor escuro. Uma luz de baixa potência amarelava o cômodo, sem iluminá-lo.

Dominou o resquício de um medo infantil e arriscou alguns passos. O ambiente era habitual, podia ler, escondido nas paredes, as marcas rupestres de sua vida. Cada centímetro guardava um segredo. O clima de saudosismo pesava-lhe as sobrancelhas. “Ó saudade déspota”, lamentou em silêncio.

A caminhada até a cozinha só lhe roubou alguns segundos. Um copo de água, outro de leite, mas não era assim, sabia, que ia afogar sua sede. Ainda segurando o copo sujo se arrastou até a janela aberta para o quintal e ali se deixou levar no olhar perdido muito além das estrelas.

A escuridão foi interrompida pelo sol que ameaçou levantar, o silencio, pela mãe que vinha preparar o café. Afugentado para o quarto sabia que tinha muito o que fazer, tudo teria de estar pronto em poucas horas.

Durante o café ameaçou algumas poucas palavras. Os clichês das despedidas não limparam as lágrimas da mãe. De olhar baixo, com o queixo esfregando-se ao peito caminhou pelo resto da casa. Murmurou juras. Abençoou cantos e quinas.

O pai lhe esperava no quarto. Olhos fixos, queixo como que entalhado em pedra. Segurava um pequeno envelope nas mãos. As mãos suadas já começavam o borrar o nome escrito aos garranchos: Bruno. Ao vê-lo, o pai se levantou. Deu dois passos e esperou que o filho viesse abraçá-lo. Uma mão estendida procurou a sua. Mas esse não era o momento delas. Os braços se ergueram, as lágrimas não se contiveram, e pai e filho celebraram juntos, escondidos pelo silencio, a ternura que só encontrava lugar no seio da família. Não se demoraram.

No caminho para a rodoviária observou cada detalhe uma segunda vez. Jamais conseguiria se lembrar do primeiro dia em que passou por ali, mas com certeza guardaria consigo para sempre essa última quando ainda pode chamar tudo aquilo de casa. Caminhou a passos curtos, despreocupados, mas ansiosos.

Na rodoviária viu-se em figura pintada, a sua vida até ali. Ombros caídos, mochila apoiada nas pernas, um moletom enrolado nos braços. Os olhos fixaram longe, afugentados pelo medo de se enxergar sozinho. Naquelas primeiras horas da manhã, poucos se arriscavam no frio de Alpinópolis. O ônibus vindo de Passos dobrou a esquina da igreja no final da avenida. O vácuo provocado pelo movimento balançou a aléia que se estendia por toda a rua principal. Um cachorro assustado correu pela grama amarelada do inverno. As orelhas livres chamaram a atenção de Bruno que acabou permitindo a um sorriso esboçar seu traço no canto da boca.

Percebido o erro, realinhou os lábios e manteve a atenção no ônibus que se aproximava. O barulho agudo dos freios fez eco nas paredes pichadas da rodoviária até se calarem diante o trocador que perguntava sobre as malas.

Confundindo-se, Bruno respondeu sobre as lembranças:

--- Vou levá-las comigo.

Subiu para o ônibus e se permitiu sonhar: “como será Viçosa”?

terça-feira, julho 17, 2007

Sabedoria do dia 18


Acessado em http://www.wulffmorgenthaler.com
Tradução livre por Thiago Locutor

quinta-feira, julho 12, 2007

Sabedoria do dia 17


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Tradução livre por Thiago Locutor

terça-feira, julho 10, 2007

Sabedoria do dia 16


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Tradução livre por Thiago Locutor