terça-feira, junho 06, 2006

Mentiras e verdades?


Beber café deixa a mente mais sugestionável, diz estudo

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1034097-EI298,00.html

Lá vem eles com essa história de novo! Será que é tudo uma simples falta do que dizer?

Café já está se tornando o exemplo mais engraçado e emblemático da palavra “estudo”, quando essa recebe pelo simples fato de existir, a característica inicial e inviolável de ser verdade.

Mas o que desgraça é verdade?

Obviamente, dizer que “um estudo aponta”, “um estudo mostra” ou melhor, “um estudo comprova” são expressões conclusivas demais. Claro que não vêm sozinhas, afinal, o que seria do “estudo” se não fosse dos “em uma universidade americana” ou “conduzida por cientistas europeus”. Essa é uma amostra bem simples da condição de verdade.

Cheguei onde eu queria, a verdade é comumente admitida como fruto de um trabalho científico sistematizado e empiricamente passível de ser provado. Mas antes de ser admitido como verdade, o experimento seja ele químico, matemático ou mesmo social, deve passar por uma banca que baseada numa literatura específica, deliberará sob a questão, alcançando inexoravelmente a conclusão do exposto ser verdadeiro ou falso.

Essa banca não são homens comuns. São cientistas, estudiosos, que após um fino desenvolvimento acadêmico tornaram-se aptos para estar ali, na posição.

Mas é ai que vem o pulo do gato. Tais acadêmicos, são obviamente formados dentro da cadeia de produção de ciência na qual tornaram-se posteriormente aptos a deliberar. Quer dizer, instituímos um protocolo de construção de verdades auto alimentado e pior, retro ativado. Isso quer dizer que estamos presos nessa cadeia de criação e estabelecimentos de padrões cuja argumentação de valides funda-se na chamada base do pensamento humano, a racionalidade.

Mas a razão surge como o elemento base do pensamento humanos somente durante as revoluções burguesas. O que me lembra que algumas palavras andam sempre juntas, padrão, prisão, razão, burguesia.

Não quero, obviamente, entrar num mérito de discussão marxista de controladores e controlados, nem de domínio ou não dos meios de produção. Mesmo porque, essa é uma discussão na qual eu não me dou muito bem.

Minha fonte de pensamento, me parece ser um pouco mais profunda, e está não na discussão do “que é” ou “não é”, mas aonde surge essa construção.

Se voltássemos nosso pensamento para alguns séculos atrás e pensássemos como eles, quer dizer, limitando a existência a vontade divina, haveriam entre nós também alguns insatisfeitos que levantariam as questões básicas de Deus existir ou não existir, das verdade prontas entregues pela igreja dominante. Mas o sistema de pensamento no qual estamos presos é um pouco mais complexo e infinitamente mais maquiavélico.

A razão é uma verdade tão bem sedimentada na mente do homem moderno, que associamos sua construção conceitual ao cerne do homem. No famoso “Penso, logo existo”, explicitamos essa necessidade de afeiçoar ao conceito. E quando digo explicitamos, não o faço porquê considero que somos todos autores da frase (afinal o que é uma frase?), mas porquê todos os humanos são fruto histórico do mesmo momento e nesse sentido, a fala de um indivíduo é a marca descritiva de todo o grupo no qual está inserido.

É nesse momento que aliamos as raízes da individualidade ao conceito criado em grupo que vejo temeroso o sentido do existir. Conceitos, idéias, noções e construções não estavam prontas quando o primeiro, biologicamente, Homo sapiens caminhou sobre solo terrestre, foi seu trabalho mental que gerou todo o sistema.

Num dado momento, o sistema tornou-se maior que o homem e novamente nos vemos presos a ele. Mas ludibriados por discussões mais exteriores como a força da mídia ou a discussão com a Bolívia ou ainda nossa condição subalterna aos EUA; ficamos cada vez mais longes de nos discutirmos enquanto humanos, não somente cidadãos.

A razão da vida, a beleza humana são assuntos hoje destinados aos poetas e sonhadores. Esquecido pelo Hominus sociales, cidadão, cientista.

Há alguns séculos, vivemos uma crise de identidade. Mas falta saber o que é identidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei!!! Isto me faz lembrar do livro O conhecimento confiável de John Ziman: "Apesar de todas as sutilezas e os prodígios, nosso sistema científico não nos diz necessariamente a verdade. O modelo social, com seus instrumentos experimentais, seus cientistas perspicazes e mentalmente dinâmicos, seus meios de comunicação, suas teorias, mapas e imagens, pode não passar de um brinquedo interessante, o aparato de um jogo muito grande e elaborado, sem qualquer função além de se estar nele ou de se assistir ao seu desenrolar"

Unknown disse...

Thiago! Eu e o piscina estávamos falando disso ontem! Algo sobre nós termos criado as "regras" pra facilitar "o jogo" e depois termos deixado que as regras virassem a essência do jogo, como se a forma sobrepujasse o conteúdo. Putz, muito boa essa!

Unknown disse...

Ah, e quanto a Didi, entra no blog dela pra conhecer, vale à pena...A moça é mais do que inteligente, mais do que especial e escreve mais do que bem, o que faz com que eu mais do que respeite a citada senhorita. E, puxa, intercâmbio de leitores é o que há...