quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O fotojornalismo e o mundo do século XXI

Há alguns anos, ouvi uma pequena história que narrava que um dia, o jornalista de uma tv local encontrou o “homem do tempo” observando o céu pela janela, minutos antes de entrar no ar. Achando aquilo engraçado, o jornalista perguntou, arqueando as sobrancelhas, o porque daquele homem olhar para o céu e não para as milhares informações que tinha disponível naquele mesmo instante. O profissional respondeu, entretanto, que “se eu dissesse que iria chover, sempre que o computador assim me diz, eu seria uma piada. Eu olho o céu todos os dias, só para ter certeza”.

Enquanto jornalistas, devemos entender a moral da estória. Quantas vezes nos convencemos de um fato, sem efetivamente observar o que estamos reportando? Se um crítico de teatro escrevesse um comentário sobre uma peça baseado somente na entrevista com o diretor, sem se importar de ver a peça, esse profissional seria despedido, afinal, a opinião do diretor não é o todo a ser considerado. Temos de ver para podermos efetivamente compreender. Mesmo assim, esse é um procedimento facilmente aceito pelos repórteres. Eles não se deslocam ao fato, e sim, entrevistam aqueles que estiveram lá. Nessa interpretação, entendemos o anacronismo vivido pelo jornalismo, principalmente o fotojornalismo, afinal, a sociedade está cada vez mais atenta e interessada em informações visuais. É uma aberração observar, portanto, que mesmo com o crescimento e melhoria do fotojornalismo, inserido numa sociedade que valoriza seu produto, esse perde cada vez mais espaço nas redações tradicionais.

Haviam poucos interessados na Internet, antes dela se tornar visual. Hoje, está ganhando cada vez mais espaço na estrutura internacional de comunicação. E isso se explica pela riqueza em imagens e gráficos. E isso nos diz alguma coisa. O jornalismo passa por um tempo precário. O público está cada vez mais ávido por sensacionalismo, entretenimento e interatividade. Mas como poderia o jornalista de aspirações éticas encontrar seu lugar? Enquanto indústria, o jornalismo começa a buscar o exemplo de outras formas de produção. Quando não há mais produtos e a demanda é forte, fabrica-se mais. No caso das notícias, entretanto, esse é o processo da especulação. Dizer o não dito baseados em fatos que deveriam ou poderiam, mas ainda não aconteceram.

A resposta ao paradigma vivido pela indústria da informação parece distorcer de sua história. Enquanto o caos social foi resolvido pela imposição de disciplinas, no exército, nas linhas de produção; o jornalismo deverá entender seu leitor dentro suas individualidades. Nesse caminho, jornalistas experientes estão migrando para a internet e buscando descobrir, por conta própria, esse caminho. Mas essa mudança é muito mais amigável para os repórteres do que para os fotojornalistas. Esses últimos estão presos do lado de fora da porta, enquanto aguardam o sensacionalismo mostrar o ar da graça. Mas sob a influência de outros profissionais nas redações, talvez os fotojornalistas pudessem usar as câmeras digitais para gerarem suas próprias especulações. Mas estamos prontos para essa “falta de ética”?

Numa época em que as notícias eram documentos, fotojornalistas viveram um período de ouro, mas agora que o objetivo da produção midiática parece centrar-se no crescente desejo por sensacionalismo, os profissionais da imagem fotografada parecem ter sido deixados de fora, literalmente.

É claro que essa desconfortável situação aplica-se aos profissionais que mantém a ética como princípio básico em seu trabalho. Afinal, poderíamos chamar de falso jornalismo, aquele que realça pontos específicos de uma linha noticiosa e ás sensacionalista. O equivalente, em texto, seria como colocar um ponto de exclamação ao fim de cada frase.

Talvez, mais uma vez, a resposta ao pesadelo seja seguir, novamente, o exemplo. Criar novos meios, abusando da criatividade, é o modelo ideal desenhado pelos usuários da internet. Talvez jamais existirá um fotógrafo que ganhará a história como em Iwo Jima, mas um profissional competente ainda pode criar um grupo de fãs se souber localizá-los no nicho certo. A fotografia, uma vez, foi chamada de nova arte. Talvez ai, repouse, uma vez mais, sua vocação.

Thiago Medeiros Ribeiro

2 comentários:

Angélica disse...

Foi-se o tempo em que se acreditava que a fotografia mostrava somente a verdade...
Impressão ou você deu agora pra postar trabalhos da faculdade nisso aqui? Aquele post anterior me deu uma preguiiiiiiiiiiiça de ler! Mas eu li sim, viu?
Beijo!

Anônimo disse...

Boa Thiago! Boa mesmo!