segunda-feira, janeiro 29, 2007

Folha de S. Paulo e o jornalismo econômico de base popular – caderno dinheiro

Thiago Medeiros Ribeiro

Esse texto análise se propõe a estender um olhar reflexivo sobre o caderno “dinheiro” da edição de 25 de novembro de 2006, domingo. O texto que segue é um projeto irmão do trabalho: “Folha de São Paulo e o jornalismo econômico efetivo – caderno dinheiro2”.

INTRODUÇÃO

O jornal Folha de S. Paulo é o maior jornal impresso em circulação no país. Atualmente, a impressão é dividida em 11 cadernos diários (Capa, Opinião, Brasil, Mundo Ciência, Dinheiro, Cotidiano, Esporte, Ilustrada, Acontece e Classificados), somados à outros 10 suplementos semanais (Folhateen, Fovest, Informática, Equilíbrio, Turismo, Guia Folha, Folhinha, Mais!, Revista da Folha e Classificados específicos).

Comprado em 1960 pelos empresários Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira, a Folha de S. Paulo sempre teve uma forte tendência a posicionar-se junto a estrutura de central de governo, apoiando inclusive o Golpe Militar de 1964 e mantendo seu apoio à Ditadura Militar até a ascensão do General Ernesto Geisel. Essa postura só mudou com a reestruturação vivida pelo jornal, que buscou o desvencilhamento do governo federal e o autodirecionamento. Esse processo assistiu a criação de nomes que ficariam famosos na história do jornalismo brasileiro, como Cláudio Abramo, Bóris Casoy, Clóvis Rossi e Jânio de Freitas.[1]

A Folha de S. Paulo é hoje a clara publicação da classe média brasileira, especialmente à população do sudeste. O jornal evita os extremos, pintando uma imagem nacional de progresso e a constante melhora do bem estar nacional. Mantendo uma olhar em seu público de domingo, a Folha trás notícias mais amplas, com estruturas textuais mais complexas, permitindo o entrelaçamento das diferentes matérias dentro da mesma editoria. Nesses momentos, a sensação de um jornalismo explicativo, normalmente utilizado em revistas, é grande.

Determinado o foto-público da impressão do jornal Folha de S. Paulo, observa-se que esse grupo também é altamente fragmentado. O próprio olhar sobre a estrutura familiar mostra a tradicional diferenciação de gostos e vontades do brasileiro. Uma segunda onda de diferenciação nasce nas múltiplas atividades profissionais dessa então categoria – leitor da Folha. Consciente disso, o jornal busca atender à todos, mas conservando, obviamente, a uniformidade do discurso ideológico.

DESENVOLVIMENTO

O caderno dinheiro da edição de domingo do jornal é a clara materialização em impressão dos anseios intelectuais do cidadão padrão da classe média nacional. A observação nasce no vislumbramento da estrutural básica da editoria: textos opinativos de colunistas e matérias firmadas no sensacionalismo comercial-econômico, abordando fraudes, roubos milionários e o dia-a-dia de grandes executivos ou mega-empresas. A exceção são as matérias que apresentam elevado interesse do leitor, como as compras de natal.

O interessante desse caderno é sua diferenciação quanto o assunto é a grande economia, como o movimento dos governos e a política empresarial brasileira. Sob a editoria dinheiro, esses temas são romanceados, citando-se os “milhões de reais” como instrumentos magníficos de um viver social idealizado. Esse “lado de lá” econômico, é como uma versão financeira de editorias como cotidiano, aonde o leitor pode viver essa realidade conhecendo-a um pouco melhor.

Essa colocação, apesar de romanceada, não foge aos tradicionais traços do jornalismo econômico brasileiro como o oficialismo. Entretanto, o caráter nacionalista das notícias ainda é marcante, como mostram os exemplos:

Marca brasileira entra na Sakes e no Corte Inglês – Com um padrão que busca aliar tecnologia, funcionalidade e conforto, a marca de lingerie Liz acaba de entrar em duas grandes redes de lojas de departamento no exterior. A primeira delas foi conquistada em outubro deste ano, a Saks Fith Avenue, dos EUA. A segunda é a espanhola El Corte Inglês, que deve ser “invadida” pelos produtos brasileiros em janeiro do ano que vem”.

“A Associação Normandia Street Shopping investiu R$ 200 mil no Natal da rua Normandia, em Moema (região sul de São Paulo), e estima um aumento de 50% nas vendas das lojas. A expectativa é que mais de 300 mil pessoas passem no local até o dia 6 de janeiro”.[2]

O grosso das pautas é, entretanto, o sensacionalismo policial que envolvem as empresas como: “Grandes marcas são acusadas pela PF de fraudar importação”, “Empresas negam ter cometido fraudes” e “Comércio ilegal ganha fôlego com Natal”.

Novamente o traço principal dessa categoria de jornalismo é marcante, e nessas notícias encontra-se novamente o oficialismo, dessa vez aliado ao entreguismo e internacionalismo. Na reportagem “Empresas negam ter cometido fraudes”, por exemplo, apesar das investigações encontrarem-se bem avançadas, o jornal Folha de S. Paulo sai em defesa das grandes empresas internacionais e dedica 85% do espaço reservado à notícia a auto-defesa dessas empresas, reproduzindo, integralmente, a carta oficial de defesa dessas companhias. O oficialismo supracitado como caracterizador da matéria é o exclusivo espaço de 15% destinado ao parecer oficial da Polícia Federal.

O caderno dinheiro da Folha de S. Paulo é ainda marcado pelos espaços de opinião de seus colunistas. Esse tipo de redação é determinante na formação de opinião do leitor, que muitas vezes, quer ouvir a explicação e explanação do “especialista”. Obviamente, essas opiniões traduzem a vontade ideológica do jornal, defendendo a agenda neoliberal do setor industrial e comercial brasileiro. Essa agenda neoliberal traduz-se também na necessidade de defesa do interesse do capital financeiro internacional e seus objetivos políticos-ideológicos para o estado brasileiro.

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que esse caderno é na verdade uma publicação degradada do tradicional jornalismo econômico, mesmo o observado nos jornais brasileiros. Essa “inovação” da Folha de S. Paulo busca criar um espaço acessível ao leitor comum, incapacitado de decodificar o “economês” do caderno dinheiro2, mas ansioso pela oportunidade de acompanhar os “principais” fatos da agenda política-econômica do governo.



[1] Wikipédia, A Enciclopédia Livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Folha_de_S%C3%A3o_Paulo. Extraído em 26/11/2006.

[2] Folha de S. Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006.

Um comentário:

Anônimo disse...

Deus, você gosta mesmo de jornalismo econômico! Brincadeira. Mas interessante isso que você colocou, sobre essa visão romanceada que eles colocam quando se trata de economia "em grandes escalas"...Colocam uma distância, deixando claro que são dois mundos distintos, mas sem deixar de exaltar a "beleza e a importância" do mundo de lá...