quarta-feira, outubro 18, 2006

Para entender

Encontrei um texto meu antigo, escondido numa pasta do computador.

O texto não é muito bom, mas me traz uma tristeza saudosista que não podia deixar de compartilhar com vocês...

COMO ENTENDER...

Diante a igreja fez o Sinal da Santa Cruz, religiosidade esquecida mas ainda presente, e continuou caminhando. Uma brisa fria, muito úmida levantou seus cabelos, obrigando-o a levantar uma das mãos para arrumá-lo. O destino era desconhecido, mas sabia o que queria encontrar.

Andou até um beco escuro, sem coragem para prosseguir retornou, seu objetivo não morava em lugar algum, talvez não fosse ali que encontraria-se. Voltando pela mesma praça da igreja, novamente o vento soprou mais forte, dessa vez, pegando-o de lado e carregando consigo algumas folhas secas. Alguns que o observaram nesse momento se assustaram um pouco, mas nada que chamasse a atenção em demasiado.

Olhos perdidos, não focalizava nada, era como se o globo ocular procurasse insistentemente, mas incapaz de encontrar, perdia-se nas mil cores das ruas. Num outdoor percebeu uma garota bonita, mas precisava de diálogo, nem que fosse numa troca de olhares. E nesse sentido encarou algumas pessoas, principalmente mulheres, mas nenhuma que lhe desse atenção especial. Diante sua casa hesitou em entrar. Uma mão sobre a maçaneta do portão, a outra direcionava a chave contra a fechadura, mas aquele ainda não era o momento, tinha que retornar para a rua.

Dessa vez estava perdido, nem mesmo ele seria capaz de explicar em que ou quem pensava, não se concentrava em nada, só caminhava. Andando em círculos sabia que era incapaz de melhorar sua situação, andaria em linha reta, mesmo que isso implicasse em enfrentar becos escuros, mas a cada passo estaria disposto a viver novas situações.

Em frente a uma estátua, uma personalidade municipal, delirou imaginando como se lembrariam dele, provavelmente não construiriam estatuas, mas haveria saudades depois da sua partida? Um sorriso de canto de boca e resolveu pensar em outras coisas, talvez algo mais feliz. --- Será que muitos iriam ao meu enterro? --- Acho que não. Pensando sozinho procurou dar uma meta racional para sua situação, impossível, era incapaz de dizer o que queria, mas continuaria procurando.

Uma dor forte no peito, no lado do coração. Nada para se preocupar.

Lembrou sozinho dos momentos felizes que teve ao lado de sua irmã. Brincadeiras na rua, jogos no parque, brigas e reconciliações, tudo era tão perfeito, pena que não dura para sempre. Lembrou, também, de como era amado pelos pais, uma mãe carinhosa, um pai presente, muito do que tinha ficado para trás merecia ser lembrado. Mas o que não seria?

Um dia brigara com seu melhor amigo, mas agora, recordando do momento sabe que foi uma bobera, erro ainda maior foi ser consumido pelo orgulho e jamais ter tentado corrigir. Mas o amigo já tinha morrido e apesar de ter passado o tempo para isso, resolveu perdoá-lo e com tamanha facilidade se perdoou também.

Outra dor no peito. Deve ser o frio da noite.

Tantos momentos poderiam ter sido muito mais felizes, se soubesse, como hoje sabe, a melhor forma de usufruí-los. Mas não se sente culpado, os risos, choros, brigas, encontros, haviam valido a pena e sua simples recordação já lhe deixavam felizes.

E o que havia de concreto hoje, não sua vida? Se perguntou e parou para tentar responder. Amigos tão fiéis quanto pudesse querer, uma namorada tão bonita quanto pudesse sonhar, uma vida tão perfeita quanto pode esperar. Mas naquela noite, algo estava diferente, e se arrepiou, com o frio que acompanhou o mistério que ele parecia desvendar.

Olhou para os lados e não enxergou ninguém.

Nova dor no peito.

Agora precisava de ajuda. Num pensamento racional talvez tivesse gritado, mas ali, sabia que estava acima de tudo isso, e não se preocupou. Uma árvore grande a sua esquerda, sentou, encostou e fechou os olhos. Respiração profunda, sonho inquieto.

Abriu os olhos e não estava mais debaixo da árvore.

Um antigo amigo ofereceu-lhe a mão. Ele aceitou a ajuda e se levantou.

Finalmente entendera tudo.

3 comentários:

Unknown disse...

Ufa...Estamos de volta...Vou atualizar a leitura e depois comento...Esse comentário aqui é só função fática mesmo...

Sujeito Oculto disse...

If you don't know where you're going any road will take you there.

Anônimo disse...

Titi...
amei...
vc é muito bom nisso=)
bjuuu