sexta-feira, novembro 17, 2006

Devaneio presunçoso 5


Homem aí do lado.
Continuação.

De olhos ainda fixos, suspirou enquanto virava o rosto, pela primeira vez, para fintar os passageiros do trem.

Daquele grupo não reconheceu nada excepcional. Uma mulher com uma criança e algumas sacolas, um velho de olhar baixo e um estranho moço que galanteava uma menina de saia, bem mais nova. Ao ver o quadro, assim tão pitoresco, murmurou em nojo da simplicidade provinciana de onde vinha.

Não eram pessoas, imaginou. São só atores sem sequer o valor de reconhecerem que estão no palco. Aquele pensamento tirou-lhe a atenção dos olhos que arquearam em sonhos.

Na cidade grande não haveria de ser assim. Encontraria milhares de pessoas, de diferentes tipos e cores. Conversaria com outros sonhadores e aprenderia sobre o mundo. Sempre imaginou um universo maior que o caminha de casa à mercearia. E na cidade grande, com certeza, vislumbraria esse cosmo infinito que era, agora, só um desejo instintivo.

O trem tomou-lhe poucas horas no caminho até São Paulo. A cidade borbulhava com o esplendido crescimento urbano dos últimos anos. Uma elite agrária migrava para as ruas da capital do estado e exigiam confortos em concreto e aço. As ruas cresciam na velocidade de um esguio de cobra e desse animal, aprendiam as formas.

A estação central pareceu-lhe o centro do mundo. Centenas de pessoas se concentravam entre aquelas imensas paredes, altas como os templos no céu. Olhou em volta, estava perdido. Livre. Sem saber ao certo o que fazer, caminhou sozinho por horas. Era impossível ver qualquer um dedicar-lhe minutos sequer de atenção, mas para ele, era como se estivesse ao lado de todos. Comprazia com a companhia do universo social que se estendia em milhares de léguas a sua volta.

4 comentários:

Sujeito Oculto disse...

Feliz por ver um novo post aqui. Que somos senão atores que se escondem por trás de uma máscara verossímil? Que sou eu senão alguém que sabe não poder ser ele mesmo em realidade e o é aqui? Sou uma inversão, um ator na realidade e autêntico no mundo virtual. Pobre retirante de mim mesmo.

Unknown disse...

Acho que foi o Elvis que disse que o mundo é apenas um palco...Quer dizer, Platão deve ter dito isso antes dele, mas eu ainda prefiro acreditar que foi o Elvis...Mas a pior parte de ser um palco onde somos todos atores é que quase nunca se pode escolher o papel...

Thiago Reis disse...

Opa!
Você está adicionado na lista do meu blog!
Aliás, gostei bastante desse seu espaço!
Parabéns!
Até mais!
Grande abraço!

Thiago Reis disse...

Gostei do comentário sobre o Elvis...
Assunto interessante, depois dou minha opinão...
[]s!