quarta-feira, março 29, 2006

Acho que vou fugir também

Teve uns tempos ai pra trás que um jovem peixe beta mantido, digo eu, pacientemente no aquário, fugiu. Correu dos olhos nossos, e quando digo nosso, faço-o porquê outros também assistiram a partida. Esperou quando estivéssemos dormindo - espero que não tenham pensado que ao dizer "correu dos olhos", o pobre animal tivesse efetivamente sumido, ao passo que o observávamos - e se foi; nem uma gota de água para mostrar o caminho, o infeliz deixou. Revoltado, magoado como são os jovens quando perdem um brinquedo, amaldiçoei o dia em que tal amizade passou de alegria para lembrança.

Mas hoje, ganhada a sabiência da idade, digo confiante, mesmo ainda que a confiança do tolo, gostaria que fosse eu o corajoso em fugir. Nesse mundo de palavras inglesas complexas para coisas simples tupiniquim, não serei o pássaro que voa contra o vento: I just want to get the fuck out of this piece of shit what you call world.

Cansei. Cansei de ter que voar e de nadar. Cansei de ter que viver e morrer.
Quero ter a liberdade até para não viver sem que isso seja morrer. Como assim? Tente por um segundo se abster dessa consciência lógica nascida e florida em séculos passados, essa mesma ração que te alimentou e te ensinou, se não obrigou, a viver. Sem ela, talvez possa me entender.

Achando eu, capaz de jogar de lado essas sandálias velhas da racionalidade, quero, portanto, fugir. Mas não como o jovem revoltado o faz. Quero fugir como meu peixe o fez, fazendo com que as pessoas pensem até mesmo se tal situação é passível de existir...
Afinal, já me perguntaram, tolos como são, se era capaz, um peixe, fugir.

Um comentário:

Unknown disse...

É Thiago...Ímpeto básico da humanidade...Quem nunca quis fugir? Agora me veio uma coisa á mente...Já leu "O Apanhador no Campo de Centeio", o livro favorito de 11 em cada 10 psicopatas? Lê e depois diz se não afz sentido...