quarta-feira, dezembro 12, 2007

101

Primeiro dia de jornalista é igual ao primeiro dia como jornalista bêbado.

As oficialidades da formatura ainda são em janeiro, mas a apresentação da monografia, que outros amigos jornalistas insistem em chamar de pornografia, é assunto do passado. Um ano preparando um texto que tive de resumir em 50 páginas que não expressaram metade do que realmente queria dizer. Senti como se Shakespeare tentasse resumir seu famoso Romeu e Julieta em – no bom inglês – “wanna do it? Yes, why not. What the crap? Cheat”.

Mas primeiro dia de jornalista é também a materialização final de uma responsabilidade que vinha se esboçando desde o início desse fatídico semestre. A responsabilidade do dinheiro, do emprego, do casamento e da vida independente, o que de forma irônica se mistura displicentemente nesse sentimento de vazio elevado. É como bater palmas para um peido.

Perdido, encontrei um umbigo que não queria ser encontrado, preocupado com as mil estrelas que se transformaram em pupilas, ardentes por novidades.

Recebi parabéns que soaram com o perverso “e agora?”.

Pergunta essa, que de tão melindrosa, dá um salto semântico para responder sozinha, “agora nada”. Gabriel Garcia Marques devia conhecer o sentido, porque a noção de começo e fim, misturadas nesse tufão de sentimentos, me lembra bastante as últimas páginas de “100 anos de solidão”. Ao chegar ao fim definitivo, momento que marca o definhar de todas as coisas, fica claro a noção de que desde o início, estávamos todos inescrupulosamente predestinados a sucumbir. Sinto o suspiro inicial, assistindo ao momento derradeiro. Início e fim ligados pela singela noção do presente.

Louco manso que sou, fico sozinho com sonhos e desejos, para definhar na solidão um sentimento de grupo. Os sonhos, repousam em ferramentas ultrapassadas, símbolos de tempos modernos. Os desejos presos a vontade de um telefone que só agora percebo ser sem coração.

Minha frase fica largada as reticências da expectativa do entendimento. O que me falta em palavras, sobra na esperança de que, apesar de incompleto...

2 comentários:

Unknown disse...

Thiago, isso foi sinceramente bonito e poético. Me lembrou aquelas crônicas do Drummond das quais eu gostava (poucas, eu não sou fã do tio Drummond), só que mais cru. Crueza de Manoel Bandeira, foi o que me veio á mente.Em suma, está bem acompanhado. E nunca pense que o que você faz (teoricamente) resume o que você é.

Estava Perdida no Mar disse...

Engraçado, não senti isso assim que me formei. Acho que estava muito eufórica e feliz por sair de tudo aquilo q nem percebi que o q me esperava era táo sério quanto. Até mais. Comecei a sentir mais este peso uns tempos depois, alguns amigos desempregados e eu empregada, nossos papos sempre eram sobre esta cobrança que vem em tom de parabéns. E agora? Acho q correspondi bem as minhas expectativas...e agora me faço novas cobranças. Um pouco da minha sorte vem daí, antes q alguém fale algo eu já estou me cobrando, me exigindo e buscando coisas novas. Acho q por isso sou feliz sendo jornalista.